Décadas atrás, cientistas de todo o mundo, quase em uníssono – ainda que com algumas diferenças entre si – alertaram para os efeitos dos impactos ambientais das atividades humanas sobre o clima do planeta. O tal aquecimento global parecia algo distante e, talvez pelo fato de despertar, no senso comum, a ideia de que este era um problema para as futuras gerações resolverem, os alertas foram sendo desprezados. Hoje, no entanto, basta colocar o rosto na janela de casa ou ver na imprensa o que já está acontecendo, aliás, muito antes do que se previa: secas, inundações, tempestades, elevação dos oceanos, extinção de plantas e de animais, calor extremo e outros fenômenos da natureza começaram a se tornar mais frequentes e intensos, causando desconforto e colocando em risco a vida de bilhões de pessoas.
Infelizmente, os alertas pelo uso insustentável da água seguem rigorosamente o mesmo roteiro de uma história que tem tudo para não terminar bem. É só lembrar que a água de que dispomos hoje é a mesma desde sempre, mas a escassez se tornou realidade em diversas regiões e o que se desenha para o restante dos continentes se deve à incapacidade do líquido da vida de cumprir os seus ciclos naturais – evaporação, condensação e precipitação – no volume ideal para atender à nossa crescente demanda por ela. Convenhamos: para a água, como para a natureza como um todo, a necessidade humana é apenas necessidade humana. Se esta necessidade está sendo atendida ou não, a água ‘não está nem aí’. Ela não vai acelerar seu ciclo para satisfazer usuários que, em vez de ajudar a cuidar dela, criam empecilhos para que ele se complete.
O desperdício, a poluição com resíduos domésticos e industriais, os incêndios florestais, as técnicas ultrapassadas de cultivo e pecuária, a destruição das nascentes e margens dos rios são apenas alguns dos golpes que a humanidade sistematicamente desfere contra algo que deveria ser cuidado com absoluto compromisso. Simplesmente, porque a água não é importante, é essencial. E sem uma mudança de mentalidade e de atitude, ‘a conta da água’ pode ficar tão cara que, talvez, não possamos pagá-la – a não ser com nossa própria existência.
Países em desenvolvimento têm dificuldades significativas de acesso à água com qualidade, assim como regiões áridas e semiáridas ou até o aumento da população contribui para diminuição da disponibilidade hídrica. Infelizmente, o que vem se desenrolando, ao longo dos anos, é a transformação da água em um bem privado, e não deve ser assim. A água é um direito da humanidade e, associado a esse direito, o dever de cuidar dela se torna indubitavelmente necessário. Por isso, sejamos capazes de compreender que cada gota conta importa e vale mais que ouro.
*Autor: Joedson dos Santos Silva, coordenador de Meio Ambiente da Bracell