O bioma Amazônico, reconhecido por sua biodiversidade e papel fundamental na regulação climática global, enfrenta mais um capítulo de sua história de exploração insustentável. A recente iniciativa da Petrobras de expandir a exploração de petróleo a apenas 160 km da costa amazônica, onde se inicia o litoral brasileiro, levanta preocupações não apenas ambientais, mas também sociais. O projeto desconsidera o impacto em manguezais e nas comunidades locais, cuja subsistência depende do ritmo das marés e da integridade desses ecossistemas.
Esse novo empreendimento faz parte de uma crescente pressão sobre a Amazônia, que já é alvo de uma série de atividades exploratórias que negligenciam as consequências a longo prazo. Embora a Petrobras e outros defensores do projeto argumentem que ele é vital para o desenvolvimento econômico do país, é preciso questionar a real sustentabilidade dessa iniciativa. Os manguezais são áreas de transição entre os ecossistemas terrestres e marinhos, abrigando uma rica biodiversidade. Além disso, atuam como barreiras naturais contra tempestades, inundações e a erosão costeira, além de serem berçários para diversas espécies marinhas.
O desconhecimento sobre os riscos associados a esse tipo de exploração é preocupante. O relatório Living Planet de 2020, elaborado pela World Wide Fund for Nature (WWF), revela que 85% das áreas úmidas globais, incluindo manguezais, já foram destruídas. O documento também alerta que a exploração de petróleo e gás representa uma grave ameaça à biodiversidade nas próximas décadas, caso não haja mudanças nas práticas adotadas. Um derramamento de óleo, por exemplo, pode devastar rapidamente as florestas de mangue, impactando tanto as espécies que dependem desse ecossistema quanto as comunidades pesqueiras da região. Isso ocorre porque o petróleo se acumula nas raízes e no solo, comprometendo o desenvolvimento da vegetação e interrompendo importantes serviços ecossistêmicos, como a proteção contra a erosão e a retenção de carbono.
Essas comunidades, que há gerações habitam a região, dependem diretamente da preservação dos manguezais para a sua sobrevivência. A pesca e o manejo sustentável sustentam essas populações, cuja cultura e modo de vida estão profundamente interligados aos ciclos das marés. Desconsiderar esses fatores em nome exclusivamente do lucro é uma violação dos direitos dessas pessoas e uma afronta aos compromissos ambientais que o Brasil assumiu internacionalmente, ainda mais se tratando de uma estatal.
O argumento de que o petróleo gerará desenvolvimento econômico para a região não se sustenta ao analisamos o histórico de exploração de recursos naturais na Amazônia. Na maioria dos casos, os benefícios econômicos concentram-se nas mãos de poucas grandes empresas e raramente resultam em melhorias reais para as comunidades locais. Além disso, o modelo de desenvolvimento baseado na extração de recursos finitos, como o petróleo, está em desacordo com a necessidade urgente de transitar para uma economia de baixo carbono, que priorize as energias renováveis.
Diante disso, é fundamental que o governo brasileiro reavalie essa decisão e adote uma postura mais responsável e consciente. O mundo está em um ponto crítico no combate às mudanças climáticas, e continuar a apostar em combustíveis fósseis é um retrocesso. Precisamos de um desenvolvimento que respeite o meio ambiente e as populações tradicionais, promovendo alternativas sustentáveis que preservem a biodiversidade e garantam o futuro das próximas gerações.
*Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e Doutor em Geografia. Professor da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional UNINTER.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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