Nos últimos anos, a pauta sobre diversidade, inclusão e equidade racial tem se tornado parte integrante das culturas organizacionais, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, abrangendo desde iniciativas até a inclusão de profissionais diversos.
Organizações indutoras de mercado, como a B3, Anbima e Febraban, desempenham um papel crucial nesse processo. Essas entidades são responsáveis por desenvolver e promover diretrizes que incentivam práticas empresariais mais inclusivas. A B3, por exemplo, incluiu critérios de diversidade racial no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e, mais recentemente, no Idiversa. Similarmente, Anbima e Febraban publicam guias e recomendações para que as empresas adotem melhores práticas de diversidade e inclusão.
Além disso, precisamos considerar a pressão política como fator que influencia essa movimentação social. Essas organizações precisam se consolidar como defensoras de pautas sociais e de interesse comum, como a equidade racial, pressionando por políticas públicas e legislações favoráveis à sociedade e aos grupos minorizados.
Uma estratégia assertiva é o estímulo por certificações e reconhecimentos norteados por metas claras e objetivos transparentes, que permitam a mensuração dos avanços da pauta através de programas de certificação. No meio corporativo, os reconhecimentos são ferramentas essenciais para promover a diversidade racial.
A Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial criou o primeiro índice pautado em equidade racial com base em dados públicos, o Índice ESG de Equidade Racial (IEER). Este índice, que considera nível hierárquico, região e salários, se consolida como uma referência global, reconhecido pela ONU e por outros organismos que atuam fortemente na agenda da sustentabilidade, equidade e inclusão, como a Fecomercio e o IBGC.
Outra alternativa proficiente é a educação e o treinamento, cruciais para a promoção da equidade racial nas empresas. Segundo um estudo do relatório McKinsey, que aborda a importância da diversidade para os negócios com base na análise de 1.265 empresas em 23 países, as empresas com mais diversidade étnica e de gênero em seus conselhos de administração têm 27% mais chance de apresentar um desempenho financeiro superior. Além disso, empresas diversificadas e inclusivas têm 76% mais probabilidade de ver ideias serem produzidas e receitas de inovação 19% mais elevadas.
Um estudo realizado pela consultoria Bain & Company em 2023 mostra que equipes com pessoas diversas têm mais chance de oferecer atritos construtivos, questionar o pensamento de grupo e reduzir erros. Embora essas equipes possam demorar mais para chegar a uma resposta, têm cinco vezes mais chances de inovar.
A Fundação Dom Cabral tem promovido, em seus cursos, a inclusão de diversos profissionais negros visando à ampliação da diversidade em suas turmas e à possibilidade de promoção do conceito de pertencimento pelos seus alunos, que encontram naquele espaço um ambiente seguro e preparado para discussões e trocas altamente qualificadas.
Com essa mesma visão, a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) tem incluído, em todos os níveis de ensino, a discussão sobre a importância da diversidade, com foco em equidade e inclusão, usando referências reais e atuais geradas pelas vivências da Associação Pacto.
Ainda com essa perspectiva, citamos a FIA, que atua fortalecendo a formação de novos líderes com base na agenda ESG. Associar o compromisso das empresas que praticam investimento social privado em educação de qualidade também se destaca como uma das melhores estratégias de diferenciação e geração de valor. Esses investimentos podem ser feitos via projetos incentivados, ações de filantropia e por apoio direto.
Mediante comuns episódios de resistência às políticas de diversidade no meio corporativo, o monitoramento e a divulgação de relatórios sobre o progresso das empresas em relação às metas de diversidade já são práticas mais comuns. Uma grande movimentação vem se fortalecendo viabilizada pelo governo federal, que recentemente publicou um decreto “convidando” as empresas a divulgarem um relatório apontando verdadeiros abismos entre a relação de salário e gênero, onde, para nenhuma surpresa da comunidade negra, as mulheres negras destacam-se como os piores indicadores.
Mais recentemente, o Ministério da Igualdade Racial anunciou o planejamento de uma nova política pública que pretende reconhecer as empresas que se destacarem pela promoção da equidade racial. Um novo momento das relações trabalhistas se estabelece no país, muito pautado em diversidade e justiça social.
Pensando nos desafios de se preparar para esta nova fase, facilitar redes e parcerias é outra estratégia utilizada. Algumas empresas destacadas organizam e apoiam eventos, conferências e plataformas online para compartilhar melhores práticas e histórias de sucesso relacionadas à diversidade, como a Conferência Empresarial ESG Racial, realizada sempre no fechamento do mês da consciência negra, que reuniu, no último ano, mais de 1.500 líderes empresariais de todo o Brasil.
Essas iniciativas de networking, conhecimentos e parcerias são grandes ativos, pois promovem um ambiente colaborativo entre empresas, comunidades e indivíduos comprometidos com a diversidade.
Desses debates, muitas provocações e informações são norteadores de novas pesquisas e indicadores, sempre pautando o desenvolvimento e a inteligência, a exemplo do próprio IEER e seus derivados: o IEER Setorial, que aponta o desequilíbrio racial por setor de atuação das empresas, tendo como referência o IBGE, e o IEER Mulheres Negras, que traça uma linha histórica de 10 anos de negligência na promoção de ações de inclusão deste recorte de raça e gênero.
A realização de pesquisas para entender melhor os desafios e oportunidades relacionadas à diversidade racial no ambiente de trabalho é uma prática inovadora. No Pacto, dados coletados para desenvolver estratégias e ferramentas mais eficazes, baseadas em evidências concretas, são uma premissa para todas as empresas signatárias da iniciativa.
As organizações indutoras de mercado, como a Firjan, no Rio de Janeiro, desempenham um papel essencial na promoção do desenvolvimento social. Elas oferecem um suporte abrangente que inclui desde a criação de normas até proposições de educação, qualificação e treinamentos. Através de diversas estratégias, essas organizações ajudam a criar um ambiente de negócios mais justo e inclusivo, promovendo a igualdade de oportunidades e valorizando a diversidade.
O papel de indutores de mercado não se restringe a organizações privadas ou de classe. Dentro do conjunto de organizações aliadas, destacam-se algumas do terceiro setor e promotores da pauta racial, como o IDIS, GIFE, Tide Setubal e a ABRH.
Neste relato, destaco os esforços de cinco grandes aliados na indução da diversidade, equidade e inclusão na agenda nacional, e excelentes especialistas a serem seguidos: Marcelo Billi, Head de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima; Alexandre Kiyohara, Head de Diversidade, Equidade e Inclusão na B3; Fernanda Hatanaka, Gerente de Certificações e Soluções Educacionais da Febraban; Paula Fabiani, CEO do IDIS; e Claudia Rodrigues, Gerente de Diversidade, Saúde Integral e Cidadania da Firjan.
Em resumo, a promoção da diversidade e equidade racial é essencial para um ambiente corporativo inclusivo e justo. As ações das organizações indutoras de mercado, juntamente com políticas públicas e iniciativas educacionais, são cruciais para alcançar este objetivo.
*Guibson Trindade, é mestre em Administração e Governança pela Fundação Escola de Comércio Alvares Penteado, formação em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas e MBA em Gestão de Pessoas. É cofundador e Gerente Executivo na Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial e Professor Convidado da Fundação Dom Cabral.
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JULIA SANSONI
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